quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Ações Afirmativas e Programação Genética



Encontrei hoje algo que escrevi há uns 3 anos. Engraçado, minhas opiniões mudaram pouco, mas eu estou bem menos otimista e "gente boa".

"Li hoje o artigo “Ação afirmativa nas universidades públicas” (Ciência Hoje, Vol 47, número 277). O artigo discute o fato de mais de dois terços das universidade públicas brasileiras adotarem políticas de ação afirmativa (normalmente denominadas “cotas”). Este é um tema polêmico e a pesquisadora Angela Randolpho Paiva, da PUC-Rio, teve a iniciativa de estudar o retrato deste tipo de ação no Brasil. É um artigo interessante, que mostra qual a situação das “cotas” para ingresso em cursos universitários. Sempre fui contra este tipo de política. Sou um evolucionista. Acredito na maior chance de sobrevivência dos melhor adaptados. Levo este tipo de pensamento até para minhas observações sociais. Mas, antes que o leitor me rotule de: mecanicista, insensível e elitista, declaro que acredito que o Brasil é um ambiente bom para que os melhores vençam, temos uma boa mobilidade social. Vemos todos os dias pessoas que conseguiram sucesso mesmo saindo de camadas sociais mais baixas. Basta lembrar do Big Brother Brasil :).

Mas hoje, um trecho do artigo da pesquisadora Angela Randolpho Paiva me chamou a atenção: “Os principais argumentos trazidos pelos gestores são: a) a necessidade de que o campus da universidade pública seja representativo da diversidade da população brasileira, pois, como definiu um dos gestores, a universidade pública brasileira, em especial nos cursos de maior prestígio, era ‘muito branca’ …” Lendo este trecho me ocorreu um Insight. Para mostrá-lo contarei um causo. Estudei programação genética em um período recente (um dos resultados desta brincadeira pode ser encontrado em http://trumae.github.com/tabuada). Em um episódio, codifiquei um algoritmo de programação genética baseado em torneios. Basicamente, 4 indivíduos são aleatoriamente escolhidos em uma população. Destes, dois com maior nota de aptidão, se reproduzem “sexuadamente” gerando duas “crias”. Os pais e os filhos retornam para a população, os indivíduos que não se reproduziram são descartados. Em uma primeira tentativa de colocar o algoritmo para funcionar, tive problemas. Basicamente, a população convergia prematuramente para soluções sub-ótimas. Um amigo me mostrou que o meu problema era no torneio. Eu selecionada os dois melhores indivíduos do grupo de 4 indivíduos e eles se reproduziam. Este amigo sugeriu que eu realizasse duas “lutas”. Eu escolheria, aleatoriamente dois deles, e faria a primeira “luta”. Depois, com os dois restantes, faria a segunda luta. Os campeões de suas lutas ganhariam o direito de reproduzir.

Qual a diferença? No novo esquema, nem sempre eram os melhores que eram selecionados. Alguns, razoavelmente bons, também tinham chances. Minha surpresa, o algoritmo melhorou. Deixou de ocorrer a “convergência prematura” e atingiu soluções melhores. Lembrei disto lendo o trecho citado do artigo. Talvez, possamos até colher bons frutos desta política de “cotas”. Penso que se isto ocorrer, não será devido ao caráter de bondade das ‘cotas’. A natureza não gosta de coisas muito uniformes, o que sempre sobrevive e a diversidade. Talvez a idéia das universidades não ter os melhores, e sim o que melhor representa a sociedade não seja ruim para o país."


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