quinta-feira, 11 de abril de 2013

Dedicatória

Quando ainda estudava em Viçosa, acho até que já fazia computação, fui visitar meus avós em uma tarde de sábado. Isso era pouco comum, normalmente minha família realizava esta visita aos domingos.


Meus avós moravam em um sítio na mesma cidade onde mora meus pais e onde eu cresci. É muito próximo da cidade, apenas uma pequena caminhada. Foi neste sítio que nasceram minha mãe e a maioria dos meus tios. Mas alguns anos anteriores a este episódio, Vô Chico e Vó Maria estavam morando em uma casa na rua. O principal motivo era a idade, meu avô devia ter, na época, uns 80 anos. Eles não estavam gostando de ficar sozinhos no sítio. Mas esta iniciativa não foi definitiva, moraram por algum tempo na rua e resolveram voltar pra roça.

Cheguei no sítio deles e minha avó me recebeu, fiquei conversando com ela um tempo na sala. Depois de um pouco de prosa, perguntei onde estava vovô. Ela respondeu que ele estava na horta que estavam recuperando. E me contou uma estória sobre meu avô ter contratado um trabalhador para cavar um buraco na horta. Perguntei que tipo de buraco, e ela disse que era parecido com um poço de pato. Perguntei para que era, e ela não soube responder. Sugeriu que eu indagasse sobre a obra ao seu idealizador.

Fui até a horta e encontrei meu avó vestido como sempre: botina zebu, chapéu de palha na cabeça, calça e camisa de manga comprida com uma camiseta de algodão por baixo. Isto tudo, mesmo embaixo de um sol escaldante. Mas é pra não pegar friagem, né?

Ele estava com uma mangueira na mão jogando água dentro do buraco, que, a esta altura, já estava cheio de lama. Era um buraco quadrangular de aproximadamente uns 40 centímetros de profundidade e 2 metros de lado. Perguntei o que ele estava fazendo. Ele respondeu, com muita simplicidade:
_ To aguando o abacate.

Para mim era uma coisa confusa, o abacateiro, a que ele se referia, estava a uns 5 metros do buraco e, ainda por cima, do outro lado de uma cerca de bambu. Então disse:
_ Mas o abacateiro tá do outro lado da cerca!
Ele respondeu:
_ Nada de graça presta, se ele quiser água, que busque aqui!


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